"Não nos deixei cair em tentação"
Ontem morreu a mãe do dono da padaria do meu bairro (sim, eu digo morreu, nada de usar a palavra "faleceu" porque pra mim isso não ameniza a situação; morreu tá "morrido"), uma senhora já de idade e que por coincidência é era minha tia-avó (detalhe: eu nem conhecia). Como a senhora era uma pessoa muito conhecida aqui no bairro e na cidade, o alvoroço foi grande, todo mundo só falando da morte da velha.
Até que ontem a noite aparece aqui em casa uma senhora vizinha, chegou aqui afoita (pra não dizer feliz) procurando pela minha mãe pois estava ávida por mais detalhes da morte, do velório e do enterro. Então foi aí que eu fiquei impressionado. Sabe essas velhas rezadeiras? Desses grupinhos que se juntam pra rezar todo dia, e que geralmente já tão mais pra lá do que pra cá e tão querendo garantir um bom lugar no céu? Garanto que no seu bairro tem um, ou então pelo menos já viu em algum lugar.
Bom, fiquei impressionado com tamanha felicidade e empolgação da minha vizinha querendo saber dos detalhes, já que iria acontecer uma celebração religiosa pela alma da idosa empacotada. Fiquei embasbacado com o brilho no olhar da vizinha falando de celebração, "rezar pra alma", entre outras coisas do gênero que eu não faço a menor idéia. Não sei se foi impressão minha, posso estar muito enganado e até cometendo uma heresia dizendo isso, mas a vizinha parece ter ficado feliz com a morte de uma pessoa pois isso implicaria em uma celebração e iriam rezar para a alma de alguém! Então eu concluo: ela iria se divertir, por isso estava tão feliz!
Durante a temporada que passei na "Busholândia" as housekeepers do hotel que eu trabalhava eram religiosas fervorosas. E sempre após o final de semana voltavam extasiadas ao trabalho, pois passavam o domingo na igreja rezando. Então compreendi algo: rezar era a única diversão que tinham essas pessoas. Se elas faziam sexo? Não sei, mas sei que eram casadas (o que não quer dizer nada). Da mesma forma, vejo que para a minha vizinha, a única diversão que ela tem é rezar. Por isso rezam tanto. As missas aos domingos já não são suficientes, então inventam de rezar o terço na casa dos vizinhos durante a semana (sim, elas precisam se distrair, se divertir). Então quando morre alguém é motivo de festa. As "velhas rezadeiras" da vizinhança se juntam e partem em comitiva até o velório. É mais ou menos quando tem uma festa, um rock, balada, entre outros termos, que você já espera há tempos. A diferença é que ninguém sabe quando o outro vai morrer, e como existe o fator surpresa, o negócio fica ainda mais interessante, a adrenalina sobe.
Digo que é diversão porque vejo um exemplo próximo a mim. A mulher que trabalha aqui em casa é uma religiosa fervorosa. Deixa de fazer qualquer coisa pra participar de paróquia, rezar terço pela vizinhança e etc. E quem fica puto com isso é o marido (e com total razão). Tá com um monte de menino catarrento doente, e ao invés de levar pro hospital, tá rezando pra molecada melhorar. Ela se encontra na faixa dos 35 anos de idade, mas tem a aparência de uma "velha rezadeira". Parece que aparência é até pré-requisito.
Vendo essa situação que me fez pensar muito, eu pude concluir duas coisas: que as pessoas que encaram a religião com muito fervor são tão fanáticas como os conrinthianos e atleticanos (o efeito disso é semelhante ao vício de uma droga) e que existem formas de diversão muito mais divertidas do que rezar o dia todo (esse povo sabe o que é sexo ou internet?).
E pra fianalizar um aviso: as opiniões expressas nesse post podem gerar alguma confusão ou interpretações errôneas. Respeito a todas as religiões e cada um faz da sua vida o que bem entender, eu só não sou obrigado a concordar com tudo que pregam as religiões, e da mesma forma espero ter a minha opinião respeitada.